quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Anorexia fisiológica dos 2 anos parte II (finalmente)





Saímos de casa como dois loucos, desesperados, com o coração do tamanho de uma ervilha. Olho para o meu marido, Pai L. com cara fechada, coisa muito rara. Queria chegar ao Hospital o mais rápido possível. Queria voar! Precisávamos saber o que se passava com a nossa pequenina. De repente mais nada fazia sentido. Segurei na mão da Alice durante o caminho todo "O que tens minha Alice? Não gostas da pápa da mamã, meu amor? Porque não queres comer, meu doce?"
Visto daqui parece uma reação exagerada, afinal é só apenas uma criança que não quer comer. Vai passar. Mas coração de Mãe não é assim. Coração de Mãe preocupa-se, quer respostas. Não comer nada ou quase nada durante tantos dias, não é normal. Não pode ser normal.
Chegando à sala de triagem, sinto-me um bocado tola, porque afinal a Alice não caiu, não tem febre, não tem "doença" visível ou pelo menos palpável o suficiente para ir às urgências. 
Mal entro na sala, a assistente exclama : Aaaah mas que caracóis e bochechas maravilhosas! Não passas fome Alice. Bem... O que dizer após uma entrada destas? 
Entre risos e nervosismo explico-me, meia atrapalhada e envergonhada ao enfermeiro por não ter dados concretos salvo a minha aflição e medos de Mãe. "A minha filha não come em termos há 11 dias. A minha filha recusa tudo, salvo o leite e a água. Ajude-me por favor! Não tenho medição de febre para lhe apresentar, não tenho episódios de vómitos, nem quedas, nem de noites infernais. Tenho apenas esta caracoleta que foge literalmente de um prato de comida." 
Com um sorriso meigo e compreensivo (OBRIGADA, HOSPITAL DE SÃO JOÃO), dirigiram-me ao médico de serviço, "Respire, Mãe. Vamos ver o que se passa com estes caracóis saltitões, a Mãe não sai daqui sem diagnóstico, não se preocupe." 
Diagnóstico! Era tudo o que eu queria! Uma explicação, um nome, algo a que me possa agarrar. Muito rapidamente, pesaram a Alice, tiraram febre e fizeram análises às urinas. Tudo numa perfeita normalidade. A Alice não perdeu peso desde a última consulta na pediatra, engordou umas 500gr. Urinas normais. Zero falta de vitaminas. Zero doenças desde Maio. Uma menina em perfeita saúde. E um alívio, oh Deus, um maravilhoso alívio neste coração de Mãe. Mas afinal o que tem a minha filha?

Chama-se Anorexia fisiológica dos 2 anos. Nome muito feio e assustador para algo até bastante comum. 

Por volta dos 12 meses (até completar os 2 anos) as crianças passam a comer menos. Isto deve-se ao facto do crescimento a partir do ano de idade ser inferior aos primeiros 12 meses de vida. As crianças passam a ter menos necessidades alimentares. Deste modo acabam por comer menos. Não estão a "enjoar" a comida. Simplesmente não têm fome. Trata-se de uma etapa, tal como muitas outras (começar a gatinhar, andar, palrar, falar etc...). É preciso conhecê-la para não causar grande preocupação, ter bastante calma porque vai passar.

Sim, vai passar. Mas como lidar com isto até "passar"? Bem, aqui em casa, metemos o coração ao largo. Deixámo-la comer o que quis do prato. Todos os dias servi-lhe as refeições como antes. Ás vezes picava alguma coisa, outras nem por isso. Hora do lanche igual, tudo como antes. Deixei de alterar o menu para lhe agradar. E sabem que mais? Após quase 3 meses, a Alice voltou a comer a minha sopa. Voltou a comer arroz e massa como se não houvesse amanhã. Pasmem-se mas esta miúda que sempre recusou a carne e o peixe sem serem mascarados na sopa ou assim, ontem até pedacinhos de frango comeu!

Vai passar. Está a passar. Chorei de alegria quando a Alice comeu a sopa toda, nem respirei, a cada colherada, e apesar das lágrimas de felicidade me escorrerem pelo rosto abaixo, tentei fazer de conta que era normalíssimo ela estar a comer, tal era o meu medo que ela parasse. Se tudo isto é assim tão fácil como um simples "Oh! Vai passar!"? Não. Meu Deus, como não é! É um momento de muita aflição, de medo e angústia muito grande. Tirou-me o sono. Quantas vezes ao adormecê-la chorei a olhar para ela, e perguntei-me o que se passava naquele corpinho com os refegos mais doces do mundo. Alguns poderão achar que a minha reação foi exagerada, mas eu sou assim. Não faço tempestades em copos de água, não me impressiono facilmente, não me preocupo por demais. Tanto que demorei quase dois meses até levar a Alice ao médico. Mas confesso-me Mãe galinha. Confesso-me frágil. Muito frágil quando se trata das minhas filhas. Da minha família. 

Se posso dar um conselho a mamãs que possam vir/ estão a passar pelo mesmo : Reajam como o vosso coração mandar. Sim, vai passar. Sim, é uma fase. Mas vocês têm todo o direito do mundo de vos preocupar, de terem medos. As palavras chave nisto tudo são PACIÊNCIA, toneladas dela e muito, mas muito, muito AMOR. Só e apenas.

Um beijinho 

Mãe Su


(Quero pedir desculpa pela demora desta segunda parte do post, várias mamãs estavam à espera, mas como expliquei no facebook deste cantinho solarengo, mudámos de casa neste mês de Agosto, e como imaginam, foi muito muito atarefado. Novas rotinas e etcs... Outro assunto que, em breve, irei falar.)

sábado, 6 de agosto de 2016

Anorexia fisiologica; os primeiros sintomas




Desde que a nossa Alice teve uma otite bilateral no mês de Maio que nunca mais comeu em termos. Nas primeiras duas semanas achámos que era pelo facto de ter estado doente. Ela, grande Miss esquisitinha, nunca foi grande garfo, deixámos estar, a um momento dado ela haveria de sentir fome e comer em condições. Mas as semanas foram passando e sem ser umas garfadas de massa ou arroz, qualquer coisa de fruta e iogurtes, a Alice recusava-se a comer. Sopa que sempre comeu tão bem, nada. Até a sua adorada Cac (cerelac) comia a meio gaz. A nossa preocupação começou a crescer. A única coisa que nos deixava (e deixa ainda) relativamente descansados era o facto que a Alice na creche comia bem a sopa.

Há duas semanas fomos passar uns dias a Lisboa, no meu interior pensei que os ares diferentes lhe iriam fazer bem e quiçá lhe abrir o apetite. Enganei-me e muito. Foi um pesadelo. A nossa caracoleta em 9 dias (NOVE DIAS) comeu apenas um pote de fruta, algum pão e bebeu o seu biberão de leite noturno. Quem é Mãe ou lida com crianças, sabe a que ponto isso nos deixa assustadas. Fiz de tudo, várias refeições diferentes no mesmo dia, tudo coisas que ela supostamente gosta. Esparguete bolonhesa, arroz com frango, todas as sopas possíveis e imagináveis, e nada! A minha filha simplesmente deixou de comer!

Após regressarmos ao Norte, pensei que ao chegar a casa no ambiente dela, fosse comer mais alguma coisa, mas nada. Tentei forçar. Voou sopa por todos os lados. Sopa nos olhos, nos cabelos, no nariz. Arroz espalhado na sala toda. A Alice em lágrimas e eu em lágrimas estava.
"Porquê? Porque não comes, meu bebé? Olha tão bom a papinha! A mana pápa! O papá também! Come, minha pequenina. Come por favor, pela mamã, come, minha flor. Peço-te meu amor, come."

As minhas súplicas não surtiram efeito. Pai L. leva-me ao hospital. Pai L. vamos ver o que tem a nossa menina, não aguento mais ver esta bebé sem comer. O meu coração, não está a aguentar mais. Dois meses nisto. O que se passa com a nossa filha? 



(continua)

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Da euforia ao horror




Portugal campeão da Europa, já me parece tão longe, e foi apenas há 5 dias. A alegria que nos ia no peito de repente foi anulada com imagens de horror em Nice ontem à noite. 
Famílias como a minha, foram assistir aos fogos de artificio da festa nacional, numa noite feliz e descontraída como tantas outras. Não tenho palavras para descrever. A dolorosa impressão que já vimos este filme, que a história está a repetir-se pela centésima vez. Adormeci como após uma noite de copos. Grogue, abananada e enjoada. 
Ao ver a minha Alice esta manhã fiquei com um nó na garganta, poderíamos ter sido nós. Aqueles caracóis de mel a saltitar pelo quarto. Poderíamos ter sido nós. Aquele sorriso e aquela voz pequenina e alegre. Poderíamos ter sido nós. Não consigo perceber. Não consigo entender o que se passa neste mundo. Claro, todos os dias infelizmente acontecem atentados a menor ou maior escala, mas não nos toca tanto na pele. Não estão tão próximos. Eu sei, é horrível dizer isto. Mas a França é a porta ao lado, o vizinho do terceiro andar. Tenho os meus pais que ainda estão na Heidiland. Tão perto. Tão ao lado das Nações Unidas. Tenho medo. Apetece-me pegar na minha família, envolvê-la num manto protector.Pela primeira vez pondero nem sair de Portugal para as férias. Pela primeira vez penso em nunca mais sair daqui. Nunca mais. 
Como explicar isto à minha mais velha? Como explicar que isto é obra de gente doente, que já nem se trata de religião ou de uma outra qualquer crença. É só mesmo matar por matar. Não há mais valores humanos. 
A cobardia é a arma desses crápulas. 
Não digam que não têm medo. Quem tem família tem medo.
Acho que a terceira guerra mundial é isto. 




sexta-feira, 1 de julho de 2016

Emprego, essa definição de identidade #1





Comecei a trabalhar cedo. Com os meus fresquíssimos 16 anos fui para um curso profissional que muito rapidamente transformei numa sólida experiência, cheia de canudos e formações. Se tenho um amor profundo pela comunicação onde me sinto totalmente Eu, a área da saúde está-me nas veias. E foi o meu rumo durante 18 anos como profissional. Gabinetes privados, permanência urgentista, Hospital estadual e por fim clínica privada. Trabalhei, como diz o meu marido por esta vida e as próximas. Horários estranhos, trabalhar quando ainda todos dormem, semanas seguidas sem folgas, sem férias, sem feriados, fora todos os Doutores e Doutorzinhos com o ego do tamanho dos Alpes com quem foi preciso lidar diariamente. Sempre que entrei num novo desafio dei-me de corpo e alma, e nunca me arrependi. O último emprego que tive em Genebra foi o culminar do que eu sempre quis, Assistente de Direcção talvez na clínica privada mais conceituada da Suíça. Proposta com que fui brindada poucos meses antes de engravidar da nossa flor de mel. Fui muito feliz durante aqueles meses mas a decisão de largar tudo, regressar a Portugal deixou-me ainda mais feliz. 

Se foi uma decisão tomada de animo leve? Não claro, não foi, até porque havia toda uma organização em volta da filhota M, escola, adaptação a uma nova cultura, a língua etc. Mas percebi finalmente que não valia a pena lutar contra o que tinha mesmo de ser. E o que tinha mesmo de ser foi. Regressei a casa com 24 anos de malas, lutas, lágrimas, experiências, uma filha de 14 anos e uma barriga de 8 meses de Alice. Se mudou a minha vida? Oh se mudou! Uma daquelas viragens a 180°!  

Hoje me dia encontro-me na posição de dizer que sou "Mãe a tempo inteiro" e vejo os suaves sorrisos em alguns rostos. Sorrisos que me fazem automaticamente passar por dondoca aos olhos de uma certa sociedade. Como tenho a Alice na creche, o pessoal pensa que passo os meus dias em cabeleireiros, que tenho sempre as unhas arranjadíssimas ou ando enfiada no Shopping o dia inteiro a gastar o dinheiro do meu milionário esposo. Seria o máximo se fosse verdade, só que não. Tenho muita pena mesmo, acreditem. Ia amar. Mas os meus dias são bem menos glamorosos que me inventam.  Passo a ferro (a muuuuuuito custo, odeio), lavo, cozinho (adorooo), arrumo brinquedos, dou raspanetes, dou carinho, faço bricolages, ajudo o marido, enfim... Estou muito mais disponível que uma mulher que sai de casa todos os dias às 8:00 e só regressa às 19:00. Mas ao que parece dizer que trabalho numa empresa ou whatever, dá-me automaticamente uma identidade do que dizer que sou Mãe. Tens emprego? És alguém. És padeira? és alguém! És vendedora? És alguém! Tens uma posição na sociedade. Existes. Ser Mãe a tempo inteiro na grande maioria das vezes significa para muitos "não fazer nada". Ser Mãe não é uma profissão nem muito menos uma ocupação. É o que é. É um emprego que vem do coração. Uma entrega de si mesmo a 2000%. Ao início também foi muito difícil psicologicamente para mim, lidar com bocas como " Ai tão bom, tens uma sorte em estares sem fazer nada", um "poooois estás em casa!" como se fosse o paraíso e tivesse uma catrefada de empregadas e ou que tudo se fizesse por magia.

É delicioso estar em casa, é! 
Dou-me ao luxo de levar a Alice à creche às 10:00 todos os dias, mais tarde às vezes até. Dou-me ao luxo de almoçar todos os dias com a minha Marina e o meu marido, e não só nas refeições da noite. Tenho o luxo de me sentar no meu sofá e escarrapachar-me meia hora ou mais se me apetecer. De ter tempo para os meus projectos pessoais, e são tantos! Tenho uma vida doce. Tenho. Se é fácil todos os dias? Não, não é. Ás vezes sinto saudades de ter aquele pico de stress, mas basta a Alice chegar a casa para senti-lo novamente.

Não, é verdade, a vida não me custa a passar.
Hoje não me custam as rotinas que se repetem, com o sol, com a tranquilidade do meu lar, com o tempo de qualidade para as minhas meninas, tempo de qualidade para organizar as coisas na minha casa, tempo para mimar um pouco mais o meu marido. Cansei-me de explicar o que me motivou em deixar o certo pelo incerto. Trocar uma condição financeira muito mais favorável, à minha vontade de não me separar nem mais um dia que fosse do meu marido. É assim... Há quem não consiga entender os que não se movem só por dinheiro e que há coisas que dinheiro nenhum do mundo paga. 

A Heidiland é sem dúvida um dos sítios mais bonitos que eu já vi, mora eternamente no meu coração, aloja uma boa parte do que sou e dos meus afectos. As saudades hoje vivem-se ao contrário. Mas a minha alegria é proporcional à imensa gratidão que sinto por tudo o que a vida me tem dado. E é tanto.

Sou Mãe a tempo inteiro. E tenho orgulho nisso. 

Deal with it, my friends. 


parte 1..........

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Das Saudades sem fim...


Nem sempre dizemos tudo o que temos para dizer àqueles que amamos. Será do tempo ou da vida que nos rouba os dias? Talvez... O que é certo é que quando damos por nós estamos com o coração a rebentar por termos esperado demasiado tempo. Porque nenhum momento foi o certo para deitar tudo cá para fora. Acontece que o destino às vezes prega-nos partidas e quando menos esperamos leva-nos pessoas essênciais ao nosso equilibrio sem sequer nos dar tempo para um beijo ou um abraço apertado. 

Hoje tenho tempo, é teu, só teu, exposto aos olhos de todos, num mundo que já não te pretence mas que tem tanto de ti nas árvores, no vento e no infinito sol. 
Hoje farias 90 anos, era o teu dia preferido do ano assim como o dia de Natal, não por receberes prendinhas mas por ser apenas mais uma ocasião feliz de reunir a família que tanto prezavas. Nem imaginas como sinto a tua falta, nem o quanto me lembro de ti em pequenos momentos do meu dia. Continuas em mim, de carne e alma, voz, sorriso e gargalhadas, mãos e cabelo, a pulsar forte e determinado no meu sangue. Ensinaste-me tanto sem eu saber, aprendi tanto de ti. Quase 11 anos após a tua ida dei de caras com o teu colete, provavelmente uma das tuas surpresas, um tesourinho que dormia por entre os meus caixotes de papelão. Reconheço-o como pequenos sopros da tua luz que me recordam o grande previlégio que tive de te conhecer, de conversar contigo tantas e tantas vezes, inventavamos mundos e discutiamos politica e futebol... Momentos preciosos e que hoje recordo com carinho. Tenho tantas saudades tuas meu Avô. 

sexta-feira, 25 de março de 2016

Coisas do nosso país que eu não consigo perceber.



Em todas as loja de animais que tenho visto, quer aqui no Porto quer em Lisboa, deparo-me com a seguinte oferta : 

"Compre 25 euros de ração e leve um gatinho grátis"

Sou só eu ou esta oferta é completamente fora? Agora dá-se gatos em troca de ração? Antigamente era ao contrário. Comprava-se o animal (apesar de eu ser totalmente contra, as associações estão a vomitar gatos e cães por todos os orifícios) e ofereciam a ração ou uma outra coisinha qualquer. Agora ofertar gatos? Assim como se  tivesse comprado um perfume na Sephora e me dessem umas amostras como brinde. Acho desumano e triste. Muito triste. Os animais não são brinquedos, nem amostras que se oferecem por simpatia do lojista. 
Vamos longe com este tipo de procedimento, vamos.

Dois dedos de testa. É o que este país precisa.




quinta-feira, 24 de março de 2016

Coisas de gente que não tem nada que fazer durante 5 minutos

Ver a FashionTv e passagens do Moda Lisboa 2015. I loooove it! ...Naaaaah estava só a brincar! Quem "lova" isto tem, creio (espero) eu, uma inteligência muito a cima da minha, pois eu não consigo ver onde está a beleza deste algomerado feiooo que dói de tecidos/arames/cortiça. 
Questão de sensibilidades, n'est-ce-pas? 






Eh pá mas não dá. Sou uma insensível, está visto... a sério, WTF??? :D :D :D 

Frases feitas que me dão vontade de distribuir chapadas # 1


Alice choraminga.

Idiota n.1 lança do alto da sua sabedoria : são muito lindos, são muito tudo mas "quem os fez que os ature".

Ora bem : Quem os fez que os ature. 

Essa frase feita mexe comigo, sobretudo a palavra ATURAR. Desde quando um bebé que chora porque tem uma crise de cólicas, fome ou outro desconforto qualquer necessita de ser aturado pelos pais? Acho, inocentemente talvez, que quando tomamos a decisão de ter um filho sabemos que o choro faz parte. Que uma criança não é propriamente um boneco ou um bibelot que fica quietinho e simplesmente não respira, está ali como mero adorno. Logo não acho que tenhamos de "aturar" como aturaríamos um chato, um bêbedo ou como neste caso, um idiota. 

Um filho não se atura, cuida-se. Dá-se mimo. Carinho. Educa-se e, sobretudo, tem que se ter uma fonte inesgotável de paciência. Chora? Faz birras? Faz parte.

Incomoda alguns imbecis? Pois. Temos pena.




quarta-feira, 23 de março de 2016

A adolescência, essa grande maleita.




Ter 15 anos não é fácil, já todos passámos por isso. É o nosso corpo que muda, a nossa mente que evolui mas que também às vezes não colabora com a nossa vontade. Uns dias acordamos com uma felicidade enorme e outros choramos por tudo e por nada. É um momento de escolhas escolares também, dos amiguinhos, das paixonetas, enfim, ser adolescente não é fácil, nunca foi para ninguém. A nossa Filhota M. é uma boa menina, não temos razão de queixa. Ajuda-nos nas lides domésticas sem resmungar, é uma miúda tranquila na escola. Não nos dá problemas de maior importância, salvo seja quando se trata de estudar. É mandriona e nós já sabemos que temos de apertar com ela, ponto final. Neste momento tem de decidir o rumo para o 10° ano, como já disse algures, Filhota M. adoraria entrar na Escola de Artes, mas infelizmente nem todos conseguem devido à forte demanda. Logo tem de ver outro caminho a seguir. Todos os dias nos pergunta "Acham que poderia ser isto ou aquilo?!", difícil para nós como pais conseguir responder, pois sabemos o quão é complicado o mercado de trabalho. Se por um lado pensamos logo numa área onde tenha mais saída, por motivos óbvios, por outro pensamos na nossa filha, nas aptidões que tem, o que combinaria com ela e a sua forma de estar/ser na vida. 
Ontem perguntou-nos : "Que tal polícia? A Mãe diz que tenho um grande sentido de justiça! ... Estou um bocado perdida, não sei o que quero ser se não tiver a ver com artes." 

Isto reflecte, a meu ver, algo mau. Tão cedo a sociedade pedir-lhes para decidir o que querem ser. Será que não poderiam querer ser em primeiro adolescentes? É tão difícil gerir emoções nesta idade e ainda lhes pedem para "decidir" a profissão que querem. Um rumo de vida. Bolas, às vezes andamos uma vida inteira às escuras, tacteando, à procura de um caminho, de uma luz, quanto mais aos 15 anos! Tentamos da melhor maneira guiá-la neste momento de algumas incertezas, tentando lhe dizer que antes de tudo, que se preocupe em passar de ano e sobretudo em ser feliz. Ser feliz, já é um trabalho em si, já é um rumo de vida mais que suficiente, não é verdade? 



domingo, 20 de março de 2016

Tempo trava aí um bocadinho...



Como é que já passaram 18 meses desde a nascença da nossa pequenina? Dezoito meses de aprendizagem para ela e para nós os 3. Lidar com um ser pequenino e com as suas pequenas grandes conquistas. Com as suas traquinices (e se ela o é). Esta filhinha que tem tanto de doce como de furacão. Já diz imensa coisa. Percebe tudo o que se lhe diz. Todos os dias dá-nos motivos para rir às lágrimas. Chegou-nos num dia maravilhoso de sol de Setembro pela manhãzinha e mudou-nos o coração para sempre. São 18 meses em tons de Alice. Ano e meio de um amor louco. Quando está a fazer uma asneira olha para nós para ver se reagimos e ri-se. Quando vê algum de nós mais triste, é amorosa. Dá festinhas no nosso rosto e fica com ar sério e preocupado. É uma simpática, na rua continua a rir-se para todos e a dizer "xaaaaaaau". Na paragem do autocarro é um fartote a cada vez que passamos por lá. Todos têm direito a um acenar com um sorriso. No supermercado quase ficamos carecas, quer mexer em tudo, aquelas mãozinhas pequeninas cheia de dedinhos, adoram pegar em tudo. Se não ficarmos atentos, chegamos à caixa com comida para pássaros (que não temos) e uma porção de coisas que não nos faz falta. Tem génio forte. Sabe muito bem o que quer e o que não quer. Já tem uma maravilhosa aptidão para a música, para além do seu querido Panda, Xana Toc Toc e companhia, a Alice adora música erudita. Ama "Piano Guys" e tem uma adoração por música Cabo Verdiana "Dino D'Santiago". Fica fascinada com o Pai L. quando toca piano ou guitarra, fica atenta, ouve de coração a música. Sente-a. Um legado do seu Papá que pretendemos, a seu tempo, dar-lhe a descobrir com os seus próprios dedinhos. Já brinca melhor com a sua Maaa, já se aceitam, já há um bocadinho mais de paciência da parte da nossa mais velha (15 anos, minha gente), e a Alice já dá abracinhos e beijos à mana, coisa que ela nunca gostou muito. Com tempo, aprendemos a lidar com esta flor de mel e a descobrir-lhe a personalidade. Somos abençoados. Somos gratos. Não querendo soar a cliché, mas era tão bom carregar no botão pausa, e pedir ao tempo para parar de voar. 






sexta-feira, 18 de março de 2016

Dos sentimentos tolos

Hoje festejam o dia dos papás na creche da Alicinha. Hoje, pela primeira vez, fui posta fora de uma festinha dela. Sinto me como peixe pouco fresco numa banca da praça. Cheiro mal. E estou triste vá. Mas compreendo. Mas estou triste. (Isto de se ser mãe e querer estar em todas, soa um bocado a egoísta e a invejosa).

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

TSURU com muito amor


Quando a Ju nos disse que tinha uma surpresa, nunca imaginei que dali iria sair um projeto tão bonito e tão amoroso. Minto. Pensei que iria sair coisa muito boa porque a Ju é tudo de bom,  mas não uma marca de roupa infantil. 
A verdade é que os modelos são lindíssimos, são todos tirados da imaginação de uma mamã que pensa em nós e nos preços muito acessíveis. Os tecidos são nacionais, tornando este projeto ainda mais atrativo. Sim, confesso sou daquelas que gosta de comprar português. Sou daquelas que inspeciona atentamente o rótulo para ver se está lá o P de Portugal, gosto de comprar o que é nosso quando o porta moedas me deixa, pronto. A Tsuru junta tudo isso, marca 100% nacional e muito estilo nos nossos bebecas. Ora vejam só estes modelos se não são de se apaixonar? 

Coleção Doce Algodão
Calção Simão


Resumindo o que é a Tsuru? A Tsuru é a história de um sonho que se está realizar com muito muito amor. Bora contribuir?


A Tsuru tem página facebook, ide lá dar uma espreita não se vão arrepender :)




quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Little Alice up date 16 meses (ide buscar um cafézinho que o texto é looooongo)




Estes pequenos cogumelos mágicos crescem à velocidade da luz. Quando paramos para pensar 2 minutos e olhamos para eles com olhos de ver, já estão a entrar na escola ou estão na adolescência. É o que sinto quando olho para a minha mais filhota mais velha. Penso, "raios, ainda ontem era uma pituca que me desarrumava os armários da cozinha toooodos e agora anda aqui, com madeixas roxas e a falar da faculdade. Onde está o meu bebé?". A mesma coisa acontece com a Alice, mas desta vez tenho mais consciência desse malvado tempo que passa e tento não perder nem uma migalha de todas as suas conquistas. Escrevo tudo, datas, lugares, quem estava, como aconteceu.

Esta bebé é uma espertalhona irrequieta. Muito diferente da minha M. que sempre foi uma paz de alma (salvo nos terríveis 3 que quase fiquei careca de tantas birras). A Alice é teatral, quando quer qualquer coisa e recebe um "Não!", atira a cabeça para trás qual atriz de novelas brasileiras e entra num pranto "Oooh mamããã! Papáá! Bebé quéééé!" Portanto chama por mim, pelo pai e explica que quer. E no caso de não termos percebido, repete a dose de pranto enquanto ninguém fizer nada, ou seja, enquanto não acedermos ao seu pedido, temos ranho e lágrimas de crocodilo. Dá-me sempre imensa vontade de rir porque é uma malandra. 9/10 não consigo esconder o riso, porque é mesmo impossível fazer cara de mazona com ela. Já o Pai raramente se desmonta, fica firme. Quando lhe damos outra coisa para esquecer a que lhe foi negada, não se conforma, aponta com o seu dedinho minúsculo o objecto do desejo e diz "Nããã, ééte! Mamã ééééte (este)!" - Não me levem por burra, é este o que eu quero, o que me estão a dar não tem a mínima graça! Abençoada sejas minha filha por já saberes muito bem o que queres. É bom esta afirmação de si, é, mas a nós tiram-nos anos de vida sobretudo em sitios públicos. Tem 16 meses. Dezasseis meses. Quem ensina estes fedelhos a exprimir seja o que for? Pois.
Florzinha neste momento está com 10kg, nem mais nem menos. É uma rodas baixas como a mamã e o papá 74.5cm e só apetece dar dentadas naquele corpinho rechonchudo com cheiro a algodão doce. Já diz algumas coisas ou pelo menos já compreendemos algumas coisas :  
(Marina/Mana) que chama desalmadamente batendo-lhe à porta do quarto ou quando nos ouve chamá-la.
Aféééé (Café) tem pancada por Café, quer molhar a colher e provar a espuma. Faz-nos os cafés de manhã. Liga a máquina com o seu indicadorzinho. Tira a chávena da prateleira. Mete debaixo do bico da máquina. Mete a cápsula e carrega no botão, sem antes mostrar a imagem do café grande ou pequeno. Eu só ajudo mesmo transportando-a no meu colo de um lado para o outro e fecho o manipulo, claro. É maravilhoso ver o seu empenho em querer nos agradar.
Soltou o tão esperado "Mamã" por tudo e por nada, ao fim do dia 13 de Novembro 2015 enquanto fazia uma birra gigante para adormecer. Foi a minha prenda de aniversário com uma semana de antecedência. Nunca fiquei tão feliz com uma birra da minha filha.
Nãã qué! Qué! (Não quero! Quero!) acho que o Não é a sua palavra preferida. Alice queres água? Nãã! Alice tens chichi? Nãã! Tens cocó? Nãã! Queres pápa? Nãã!
A piolha já avisa quando quer fazer cocó. Apenas diz "Cocó" e toca de fazer força onde quer que esteja. Estás a fazer cocó, Alice? A resposta, aposto que já adivinharam. Também diz xixi à sua maneira, Sissi! É fofinho, é sobrenome de uma tia minha. Já vai ao pote na creche mas aqui em casa ainda não conseguimos conciliar muito bem o momento alarme com o momento sentada no pote. Havemos de lá chegar.
Ácha (bolacha), Pópó, Auau (cão, mas pode ser para um gato também), Bêêêê (ovelha), Pato, Pãã (pão), eitinho (leitinho), Mai! (mais), Tio, Bóbó/Bobô (vóvó, vôvô), Açã (maçã, mas também chama maçã qualquer fruta que vê), Pá! (pára!).

Este pequeno furacão deu os seus primeiros passos no dia 9 de Dezembro e só começou a andar mesmo no dia 8 de Janeiro 2016. Agora é ver este pinguinzinho andar de um lado para o outro às vezes com uma tal rapidez que até nos esquecemos de respirar de medo que se esbardalhe. Quando estamos em casa é uma delicia, já na rua é um pesadelo, a nossa calçada não é propriamente o que há de melhor para um pezinho tamanho 18. Já não gosta tanto do nosso colo, nem tampouco do carrinho, faz sempre birras quando tem de se sentar lá, deixa-nos sempre a transpirar e a bufar. Ela quer é AN-DAR! Ama ouvir o Pai a cantar, quer ver os vídeos do Pai, over and over and over. Amo a voz do meu marido e as músicas dele, mas há dias que me sai pelos buracos do nariz. (Thank you Baby Alice.)

Continua Miss Esquisitóide para comer sólidos. Nada passa, cospe tudo. Mas como adora sopa, aproveito para meter lá dentro tudo o que ela não come em sólidos. Carne, peixe, frango, peru tudo! A única coisa que adora comer é massas e arroz (branco, sem ervilhas, cenouras ou qualquer outro adorno). De resto iogurtes, puré de frutas e pápas marcha que é uma maravilha. Já come sozinha com a colher, em todas as refeições sou obrigada a dar-lhe uma tacinha só para ela. Claro, eu vou lhe dando da grande mas ela já se safa super bem.

Gosta de apagar e aceder luzes. De carregar no botão para chamar o elevador. Ama o banho e adora beber água pelo chuveiro (senti-lo na pinha é que já não acha tanta graça) brinca imenso com os bonequinhos de repuxo. Tem uma adoração sem fim pelo Panda, Xana toc toc e Avó Cantigas. Gosta de música infantil espanhola (não me perguntem porquê, nem como!). Tem uma destreza desconcertante com tlmvs e ipad, sabe pôr no youtube, escolher o vídeo que quer ver e carregar no play. Quando fica farta sabe puxar o vídeo para baixo e escolher outro (ME-DO). Tentamos não lhe dar o telemóvel como uma solução para a acalmar ou para a entreter mas a realidade é nem sempre é fácil. Também não tem contacto com tvs e tlmvs 1h antes de dormir. Queremos que esteja descansada, que brinque com os seus brinquedos antes de ir para a cama, longe de aparelhos electrónicos. Adormece regra geral entre as 20:15 e as 21:15, depende muito da nossa organização ou do estado de cansaço da pituca. Dorme relativamente bem, acorda 2-3 vezes, uma chupeta para repor, um miminho ou um leitinho entre as 2:00-4:00 e às 7:45-8:00 está fresca que nem uma alface.

É uma bebé fácil de se criar apesar de gostar das suas ricas rotinas, é furacão, é sim senhor, não pára quieta, não é nenhum nenuco, mas também é doce como o mel que tras nos seus caracóis. E lá vamos nós em 16 meses. Como o tempo passa...


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Eu é mais bolos.



Desde que me lembro de mim numa cozinha que gostei de fazer bolos. Sim, desde os meus 12-13 anos que tive grande simpatia em fazer doçarias. Mas bolos, ai bolos, bolos sempre foi a minha preferência. 
Fazia bolos para o meu pai (carteiro de profissão) levar para ele e para os colegas dos correios. Naqueles dias de graus negativos e muita neve na nossa Heidiland, dava me a sensação que fazer lhe um bolo era como dar-lhe um conforto extra. Um miminho a meio da manhã gelada. Um bocadinho do calor da nossa casa num rectangulo doce, misturado com o seu café, transportado naqueles termos antigos do campismo. 
Fazia bolos para a minha mãe, especialmente os de canela e maçã, por saber que era o que ela mais gostava (o meu preferido também). Adoçar-lhe o final da noite, partilhar com ela uma chávena de chá em frente a um bom filme ou simplesmente na mesa da cozinha à volta de uma conversa das nossas. Um miminho antes de ir dormir pois o dia a seguir prometia, como sempre. 
Fazia bolos para o meu irmão. Não, o meu irmão não. O meu irmão só comia os meus bolos quando fazia anos. Porque era o bolo de aniversário DELE. No choice portanto. Mas sei que gostava deles apesar de tudo. Comia de bom grado e sem torcer o nariz. Enfim. 
Hoje em dia continuo a fazê-los mas para o meu marido e para as minhas filhas. Não que fiquem como os do Cake Boss (que até nem acho grande piada a isso, confesso) nem nada de parecido, os meus coitadinhos são os típicos caseirinhos mas é sobretudo porque sempre gostei do conforto que se sente numa casa com cheiro a bolo acabado de sair do forno. Nada me dá mais prazer num domingo chuvoso ou num daqueles dias maus que de me enfiar na cozinha, pegar na farinha e nos ovos e inventar um bolo qualquer. Não é por guloseima, porque às vezes como apenas uma fatia e o resto acabo por ver só o miserável cadáver de umas pobres migalhinhas. Mas é como se fosse uma espécie de terapia. Não penso em nada. Estou apenas ali. Concentrada em pôr muito amor naquela massa doce. Para depois vê-la crescer e ganhar aquela cor dourada maravilhosa.  Por isso, com a semana do demo que tive, nada fez mais sentido que disparar um Laranja & Chocolate no sábado à noite enquanto via um documentário do David na Sic com a minha filhota grande (a bebé estava a dormir e o maridão estava a trabalhar). E foi combinação certeira.. Ganhei a força de um leão. O que um bolo não faz... :) 




quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

David Robert Jones / David Bowie




Nos últimos dias anda tudo em alvoroço. Redes sociais. Jornais. Telejornais. Blogues. Instagram. E aqui dentro. Dentro do meu coração. Tem sido complicado. Uns poderão achar isto ridículo. Outros aceitam. Outros ainda esboçam um sorriso cínico. e depois há os outros, os como eu, que andam a sentir na pele.

Dia 11 de Janeiro 2016, 7:15, levanto-me, ainda dorme a casa toda. A minha mãe esteve cá a passar o fim-de-semana e daqui a pouco tem de ir para o aeroporto. Vou a cozinha e vejo-a já pronta a sair, a beber o seu cafezito. Bolas, estamos atrasados. Acordo o marido que ainda um pouco estremunhado se prepara num ápice e chega à cozinha a dançar e a rir, literalmente, para mostrar que já está bem acordado e pronto para mais um dia. O meu marido é assim, um homem bem disposto, sempre pronto, nunca refila. Adoro isso. É maravilhoso. Não posso ir com eles, a Alice ainda dorme e eles já vão apanhar a hora de ponta na Antas. Mal acabo a minha frase ouço o habitual "Mamãããã, a pê!" (entenda-se "Mamã, a chupeta!" a Alice mal acorda atira a chupeta para fora da cama e chama-me. É um truque dela para eu me levantar mais rápido. E funciona.). Vou buscá-la à caminha e vou até à porta. Despeço-me à pressa da minha Mãe. Abraço-a forte e suspiro, mais uma ida. Um dia não terá mais de ir e irá ficar aqui, em Portugal, pertinho de nós. Custam-me cada vez mais estas despedidas. Deve de ser da idade, provavelmente. 

Fecho a porta, ainda com a Alice ao colo, aqueço-lhe o leitinho. Dou-lhe um beijo e aconchego-a no meu regaço para a alimentar. Olho-a apaixonadamente, acaricio-lhe os caracóis de mel. Beijo-lhe a testa. Cheiro-a. Namoro-a. É um ritual só nosso todas as manhãs. Após isso, o furacão desperta e começa pedir uma catrefada de coisas : Panda, Xana toc toc, Pocoyo, Avô Cantigas, músicas do papá L. e de dedinho em riste aponta para mil e uma coisas. Ainda não bebi o meu café, vou num instante à cozinha. Não me sinto acordada enquanto não tenho a minha dose de cafeína. Pego na pulga ao colo e vou buscar o meu telemóvel para me pôr a par das notícias do dia, já que a televisão está ocupada por personagens com vozes patetas e cheio de cores. Notificação no LINE, mensagem do meu irmão, seguido de uma centena de outras notificações WhatsApp (mamãs tagarelas mais lindas). Primeiro o meu irmão, depois facebooks e afins. Abri. Li. O meu coração congelou. Achei que ele estava a brincar. "Mana. O nosso Bowie morreu." Não podia acreditar no que estava a ler. Corri para as redes sociais à procura de uma não resposta. A procura de algo que desejava não ler. O meu feed notícias estava entupido de posts da BLITZ e de amigos a contestar, outros já visivelmente conformados, RIP e mais RIPS (odeio RIPs.). Fui à página oficial, ali não podia ter erro. Ali se houvesse alguma coisa, seria verdade. E estava lá a verdade crua, gélida e inaceitável, a que ninguém quer ler. Morreu. MORREU. NÃO PODE TER MORRIDO. Cancro? Onde? Quando? Não nos disse nada! Vou ao Twitter do filho dele. Está lá a confirmação. Durante uns minutos imagino um plano engenhoso do nosso Ziggy Stardust, em que daqui a umas horas diria que tudo não passou de uma farsa, que foi um plano puramente promocional. Sim, poderia fazer sentido. O disco novo saiu há 2 dias. Porra 2 dias. Não pode morrer assim. 2 dias depois de completar 69 anos e ter posto cá fora uma melancólica mas tão maravilhosa obra. Vem me à mente em relâmpago o videoclipe Lazarus, penso, será? Não. Ninguém morre dessa maneira. Não assim. Só pode ser truque. Mas ele não era de truques. Nunca foi. Será verdade então? Despacho-me, visto-me à pressa, preparo a minha pequenina e levo-a para um lugar bonito, onde estão os seus amiguinhos e as suas adoradas educadoras que lhe darão mais atenção, a que eu não lhe estava a puder dar naquele momento. Após regressar a casa, deixo de lado o trabalho que tenho de fazer. Pode esperar. "Não consigo trabalhar sem tirar isto a limpo"- penso para mim. Pesquiso. Acendo a tv. Falam todos do mesmo. Então é mesmo verdade? Morreu? O meu David. O meu ídolo. O meu amigo. A minha companhia. A voz que me cantava ao ouvido quando ia para o trabalho. A voz que me deu tantas vezes força para atacar dias difíceis. Como é que eu vou fazer agora? Como é possível saber que nunca mais vou ouvir um disco novo? Como posso imaginar que nunca mais haverá outra personagem  nova. Que nunca vi um concerto dele ao vivo e a cores. Dói-me o coração. Dói-me o corpo e falta-me o chão. As lágrimas caem e não consigo segurar. Soluço. Estou a soluçar por uma pessoa que nunca soube quem eu era. Estou a chorar por alguém que me incluía num grupo, nos fãs. Nunca gostei de pertencer a grupos, salvo seja do Sporting ou do meu grupo de mamãs instagram. Pensei que estava a ser parva. Que não podia chorar. Mas as lágrimas continuaram a cair. O meu corpo mostrou-me que ser parva é querer travar o que o meu coração sentia. Perdi um amigo. Um amigo das horas escuras, dos momentos felizes, das sextas-feiras à noite a sós, eu, ele e um copo de bom vinho tinto. Dos domingos de manhã em pijama enquanto tratava das lides da casa. Que me fez sorrir milhões de vezes pela sua genialidade, pela forma como era incrivelmente especial. Especial na forma de estar na vida. Especial na forma de reinventar a música. Especial por conseguir surpreender a cada álbum e continuar a conseguir me arranhar a veia com a sua voz. Especial. Ponto. Viveu mil vidas. Aproveitou tudo o que tinha de aproveitar. Foi ao céu e voltou outras tantas vezes. Saboreou a vida com todas as suas cores. Resta-me a sua obra, eterna, mágica e inspiradora que prometo transmitir às minhas filhas. Prometo deixá-las sorver casa nota e tirarem as suas próprias conclusões. Sentirem profundamente que David Bowie não se ouve, VIVE-SE. Eu perdi um amigo. Um companheiro. Dói-me o coração tanto, tanto, muito mesmo.

Lazarus é o video clipe onde faz uma vénia aos seus fãs. Diz-nos, "Estou doente, estou a morrer, mas vivi como um rei. Vou liberar-me. Vou para o paraíso onde já não irei mais sofrer." Despediu-se de nós a 7 de Dezembro 2015, e nós nem percebemos. Foste uma obra de arte até ao fim. Que orgulho em gostar tanto de ti.  Até sempre, David. 



Ilustração Alexandre Esgaio


Alô Alô?!




Pois, isto já anda entregue às traças. Consigo sentir o cheiro a mofo e vejo uma família de morcegos a dormir ali a um canto. Está na hora de abrir as janelas e deixar entrar ar fresco e quiçá um pouco de sol, se o tempo assim o permitir (hoje, claramente nestes lados nem por isso). Passou o Natal, e passou muito bem, tranquilos em casa, em família como se quer. Com uma Alice em modo furacão e super simpática como já é habitual nela. Passou o Réveillon, e passou  muito bem. Em apaixonados, eu, o Pai L. e a baby Alice que dormiu praticamente o serão todo. A filhota grande, do alto dos seus 15anos quis ir festejar no bar de uma amiga nossa, e até que correu bem. Entretanto já estamos a 13 de Janeiro. Até dia 11 estava tudo bem. O ano 2016 tinha começado tranquilamente. Os meus projectos profissionais estão definidos, em Fevereiro ataco. Ainda procuro um nome, mas acredito que vai me aparecer algures em sonho, vou perceber que é aquele e mais nenhum. Funciona quase sempre assim. De resto a família está bem. E ainda bem. Tudo estava tranquilo até dia 11 de Janeiro às 7:50 da manhã. Dia esse que ficará marcado na minha memória como um 11 de Setembro emocional. Um dia difícil aqui no lado esquerdo. Um dia que gostava que tivesse acontecido mais tarde, muito mais tarde, tão tarde que poderia nunca ter acontecido, e como eu gostava que assim fosse. Hoje dia 13, ainda estou ressacada. Dormente. Zombie. Penso que é assim que uma pessoa se sente quando perde alguém importante. Um ídolo. Um amigo. Sei lá. Só sei que não ando a caminhar dentro do meu próprio corpo. Como se não existisse chão. Como se fosse tudo um teatrinho e estivesse sentada na plateia à espera do fim da peça, para me levantar, aplaudir orgulhosamente e regressar tudo ao normal. Sim, imagino que é assim que se sente quando se perde um porto de abrigo.