domingo, 20 de setembro de 2015

A vida com outras cores / 1 ano de Alice

Ultimamente ando com os sentimentos à flor da pele. Um nada me faz ficar com os olhos marejados, ando uma lamechas. Em parte é pelo nosso casamento daqui a uns dias mas outra é porque a nossa pequena flor de Mel faz 1 aninho.
É sem dúvida um dia que uma mulher nunca esquece. Há 1 ano, a esta hora, estava em casa com a filhota M., Pai L. tinha um concerto a 70km de casa. Estávamos em casa só nós as duas. As contracções começaram pelas 22h, tranquilas mas muito presentes. A experiência de um primeiro parto, 14 anos antes ajudou-me e muito a ficar calma. Fiquei naquela, deixa lá ver o que isto vai dar. Já tínhamos tido um falso alarme 3 dias antes, logo não estava minimamente com vontade de fazer papel de ursa novamente a meio da noite. Estava calma e serena, mas senti que estas contracções eram diferentes. O nosso peludo da casa estava estranhamente muito colado a mim. Seguia-me na casa toda, ao ponto de escavacar a porta da casa de banho quando lá fui. Acreditei no incrível 7º sentido que têm os animais, pensei que de facto só poderia ser coisa séria.  

Ás 00:30 decidi mandar um sms ao Pai L., só naquela de ver se ele estava quase a terminar pois as contracções estavam cada vez mais próximas e ritmadas. Respondeu-me 30 minutos mais tarde, estava um bocado aflita, cheguei a pensar que tinha de chamar um taxi e ir para o CMIN sozinha. Mas não, perguntei-lhe inocentemente :"Ainda demoras muito?" 
e ele respondeu : "Não amor, daqui a 40minutos estou despachado, o tempo de arrumar o material. Porquê?!" 
e eu : "Porque temos a nossa Lady pequenina a querer nascer. Mas vem com calma que isto ainda não é para já". Escusado dizer que 30 minutos mais tarde estava em casa. 
Telefonámos a uma amiga para ficar com a nossa mais velha e ás 3:15 da manhã seguimos para a maternidade. Durante o caminho a nossa pequena ainda fez das dela, com contracções a variar ora todos os 3minutos ora todos os 8. Chegámos a estacionar á frente da maternidade e a equacionar se entrávamos ou não porque a contracção que tinha de ter ás 3:39 não aconteceu. Não queríamos fazer mais uma figura triste, até que acabei por dizer ao Pai L. "Olha que se lixe, estamos aqui e estamos, vamos lá ver o que se passa com esta piolha". 
Claro, entrámos a dois e só voltaríamos a sair a três.
Fiz muito rapidamente a entrada adminstrativa e fui fazer o exame. Disseram-nos que era para ficar, estava com 3 dedos de dilatação. O Pai L. já chorava de felicidade mas estava nervoso, porque me estava a ver sofrer. Contracções não é de todo coisa meiga. Entretanto fui fazer um xixi que estranhei ser interminável, só depois reparei que não era xixi nenhum mas sim as águas que tinham rebentado. A partir daí a máquina estava lançada, fizeram a epidural ás 5:30, ás 6:45 fez-se a mudança de turno (A-LÍ-VI-O! pois a médica da noite era uma verdadeira besta que estava com soninho, tadixa) e chegou uma equipa maravilhosa. Pelo meio precisei em urgência de oxigénio pois o meu coração descompassou e estava a ficar uma situação perigosa, para mim e claro, para a bebé. O Pai L., foi maravilhoso, esteve o tempo todo comigo, deu-me todo o apoio que precisei, acalmou-me quando foi preciso e deu-me a coragem que o momento pedia.
Eu só queria ver a minha bebé. Saber se ela estava bem. Descobrir-lhe o rostinho e beijá-la. Acolhe-la nos meus braços. Naquele sábado quente de 20 de Setembro 2014, às 8:20 da manhã chegou ao mundo a nossa princesa Alice. No meio de um choro completamente descontrolado da minha parte e do Pai L. a nossa tão desejada menina, fez a entrada oficial na nossa família. As primeiras palavras que lhe disse, foram tão naturais e ao mesmo tempo tão importantes que 1 ano depois ainda me lembro, sussurrei-lhe ao ouvido :"Bem-vinda meu amor, minha pequenina."











sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Dos dias muito negros :(




As primeiras fotos de crianças afogadas no mar que me chegaram aos olhos, vieram pelo facebook da excelente jornalista Rita Marrafa de Carvalho. A violência daqueles recortes foi de tal forma devastadora que chorei compulsivamente durante horas. Não por pena, mas por vergonha. Vergonha do mundo de merda em que vivemos, onde as crianças não podem ser crianças em certas partes do mundo. E sobretudo muita vergonha de ser em parte causadora do que se anda a passar de mau neste mundo. Aquele murro de realidade, aqueles corpinhos semi despidos na escuridão do mar gelado foi um estalo no meio da minha bolha de felicidade. Tirou-me o sono. Fiquei a matutar no que poderia fazer do alto da minha insignificancia. Deixei de ver o telejornal desde Sábado passado. Já não consigo. Não tenho estômago. Olho para as minhas filhas e imagino que poderia ser a minha família naquele barco. Poderíamos ser todos nós. Beijo ainda com mais força os meus. Agradeço cobardemente á vida por ter nascido onde nasci e por ter a vida que tenho. Penso mais uma vez naquelas crianças. Naquelas imagens insuportáveis de realidade. Sem culpa nenhuma, nasceram no lado errado do mundo. No desespero imensurável daqueles pais que escolhem a incerteza do mar ao das bombas. 

Dois dias mais tarde aparece mais um corpinho. Nas redes sociais só se fala nisso. Aquele menino com o rostinho colado à areia fria foi o estalo que a nossa Europa precisava. Aylan chama-se ele. Aylan 3 aninhos e o seu mano Galip de 5 anos, ambos mortos por afogamento enquanto tentavam fugir com a sua mãe para a Turquia com o destino ao Canadá. Enquanto deixarmos o mundo ir nesta espécie de inércia moral e humana, tudo pode acontecer. A "democracia" de deixar pessoas morrer à fome no nosso próprio país, a "democracia" de ver o mundo ruir e continuar na contemplação do nosso próprio umbigo. Estamos sem sombra de dúvida a permitir que tudo isto possa acontecer. O medo e a cobardia de que nos possa chegar mais perto, faz-nos tapar os olhos e os ouvidos. Só que agora chegou-nos o cheiro e não há mola no nariz hermética o suficiente. As guerras precedentes não são NADA comparado ao que aqui vem. Miséria da alma, dos valores humanos e qualidades morais. 

A solução? Não faço a mínima ideia qual é. Mas alguma haverá. Nem que seja estupidamente ter amor ao próximo, ter compaixão e mostrá-lo da maneira mais simples que seja. AJUDANDO de forma genuína. Enviando bens de primeira necessidade. Abrir as portas do nosso país e das nossas casas, e sobretudo abrir o nosso coração. A EUROPA SOMOS NÓS QUE A FAZEMOS. Não vamos continuar a compactuar com o nojo de gente de fato e gravata que acha que manda. Para ajudarmos a AMNISTIA INTERNACIONAL a exigir o fim do silêncio europeu :


1) Façam um donativo: liguem 760 300 112 (custo da chamada 0,60€+IVA) oubit.ly/Apoiar
2) Assinem a petição: bit.ly/europa_refugiados


Não custa nada. Hoje por eles. Amanhã por nós.