sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Dos dias muito negros :(




As primeiras fotos de crianças afogadas no mar que me chegaram aos olhos, vieram pelo facebook da excelente jornalista Rita Marrafa de Carvalho. A violência daqueles recortes foi de tal forma devastadora que chorei compulsivamente durante horas. Não por pena, mas por vergonha. Vergonha do mundo de merda em que vivemos, onde as crianças não podem ser crianças em certas partes do mundo. E sobretudo muita vergonha de ser em parte causadora do que se anda a passar de mau neste mundo. Aquele murro de realidade, aqueles corpinhos semi despidos na escuridão do mar gelado foi um estalo no meio da minha bolha de felicidade. Tirou-me o sono. Fiquei a matutar no que poderia fazer do alto da minha insignificancia. Deixei de ver o telejornal desde Sábado passado. Já não consigo. Não tenho estômago. Olho para as minhas filhas e imagino que poderia ser a minha família naquele barco. Poderíamos ser todos nós. Beijo ainda com mais força os meus. Agradeço cobardemente á vida por ter nascido onde nasci e por ter a vida que tenho. Penso mais uma vez naquelas crianças. Naquelas imagens insuportáveis de realidade. Sem culpa nenhuma, nasceram no lado errado do mundo. No desespero imensurável daqueles pais que escolhem a incerteza do mar ao das bombas. 

Dois dias mais tarde aparece mais um corpinho. Nas redes sociais só se fala nisso. Aquele menino com o rostinho colado à areia fria foi o estalo que a nossa Europa precisava. Aylan chama-se ele. Aylan 3 aninhos e o seu mano Galip de 5 anos, ambos mortos por afogamento enquanto tentavam fugir com a sua mãe para a Turquia com o destino ao Canadá. Enquanto deixarmos o mundo ir nesta espécie de inércia moral e humana, tudo pode acontecer. A "democracia" de deixar pessoas morrer à fome no nosso próprio país, a "democracia" de ver o mundo ruir e continuar na contemplação do nosso próprio umbigo. Estamos sem sombra de dúvida a permitir que tudo isto possa acontecer. O medo e a cobardia de que nos possa chegar mais perto, faz-nos tapar os olhos e os ouvidos. Só que agora chegou-nos o cheiro e não há mola no nariz hermética o suficiente. As guerras precedentes não são NADA comparado ao que aqui vem. Miséria da alma, dos valores humanos e qualidades morais. 

A solução? Não faço a mínima ideia qual é. Mas alguma haverá. Nem que seja estupidamente ter amor ao próximo, ter compaixão e mostrá-lo da maneira mais simples que seja. AJUDANDO de forma genuína. Enviando bens de primeira necessidade. Abrir as portas do nosso país e das nossas casas, e sobretudo abrir o nosso coração. A EUROPA SOMOS NÓS QUE A FAZEMOS. Não vamos continuar a compactuar com o nojo de gente de fato e gravata que acha que manda. Para ajudarmos a AMNISTIA INTERNACIONAL a exigir o fim do silêncio europeu :


1) Façam um donativo: liguem 760 300 112 (custo da chamada 0,60€+IVA) oubit.ly/Apoiar
2) Assinem a petição: bit.ly/europa_refugiados


Não custa nada. Hoje por eles. Amanhã por nós. 





Sem comentários: